parte da comunidade de informática brasileira 
interessada em eleições e voto eletrônico passou anos tentando mostrar ao TSE, 
autoridade eleitoral nacional, que havia uma [isso, uma] coisa errada no sistema 
eleitoral brasileiro e que esta “coisa” era o sistema como 
um todo, e não somente a urna eletrônica brasileira.
um 
comitê multidisciplinar independente enfrentou o problema ao analisar o sistema 
eleitoral brasileiro e concluiu, 
em 
2009, que… 
1. além 
do sistema de apuração rápida, 
que oferece aos brasileiros, o TSE deveria propiciar uma sistema eleitoral de 
apuração conferível pela 
sociedade civil; 2. há 
exageradaconcentração de 
poderes no processo eleitoral brasileiro e 
3. no 
atual sistema eleitoral brasileiro é 
impossível para os representantes da sociedade conferire auditar o 
resultado da 
apuração eletrônica dos votos.
o 
comitê recomendou que se tomasse providências para 
1. Propiciar separaçãomais 
clara de responsabilidades nas tarefas de normatizar, administrar e auditar o 
processo eleitoral brasileiro, deixando à Justiça Eleitoral apenas a tarefa 
dejulgar 
o contencioso; 2. Possibilitar auditoria dos 
resultados eleitorais de forma totalmente independente das 
pessoas envolvidas na sua administração,e 
3. Regulamentar detalhadamente 
o Princípio de Independência do Software em Sistemas Eleitorais, expresso 
na Lei 
12.034/09, definindo claramente 
as regras de auditoria com 
o Voto Impresso Conferível pelo Eleitor. detalhes e mais links sobre o 
assunto 
neste 
link.
de 
2009 pra cá, como antes das recomendações do comitê, nada de significativo foi 
feito para mudar o processo eleitoral. o mantra repetido pelo TSE, que confia na 
sua informática, é que as eleições brasileiras estão acima de qualquer 
suspeita.
antes 
das últimas eleições, um grupo de pesquisadores liderado por diego aranha, da 
UnB, descobriu 
como quebrar o sigilo da urna. para minimizar o 
problema, o TSE afirmou que nada havia sido “quebrado” e que era apenas mais um 
aspecto da urna que deveria ser melhorado. para o presidente do TSE, 
a quebra do sigilo da urna… 
“Foi 
dentro de um ambiente controlado. Isto numa situação real seria absolutamente 
impossível porque ele não teria acesso à fonte”.
em 
outubro passado, o blog fez uma só pergunta diego aranha: 
quais 
são suas principais críticas à segurança da urna eletrônica do TSE? e a 
resposta que ele nos enviou por emeio e 
publicada na íntegra, em outubro, é repetida a 
seguir em 
itálico, 
com 
negritos nossos.
Os 
principais problemas de segurança da urna eletrônica estão exatamente ligados 
aos dois requisitos fundamentais para a lisura das  eleições: sigilo e 
integridade dos votos. Durante 
os testes de segurança, encontramos uma vulnerabilidade que nos permitiu 
derrotar o único mecanismo de segurança implementado na software da urna para 
proteção do sigilo do voto. Utilizando essa vulnerabilidade, minha 
equipe conseguiu recuperar a lista ordenada dos votos em eleições simuladas com 
até 475 eleitores a partir unicamente de informação pública, com impacto 
potencial até em eleições passadas. Além disso, detectamos 
outras fragilidades que abrem a possibilidade de adulteração ou substituição do 
software de votação por uma versão que conta os votos de forma 
desonesta. Todas as urnas eletrônicas do país compartilham uma mesma 
chave criptográfica que protege os seus dados mais críticos e esta chave está 
ainda disponível na porção desprotegida dos cartões de memória. Mesmo que 
corrigidas pontualmente, este conjunto 
de vulnerabilidades denuncia umprocesso 
de projeto e desenvolvimento de software defeituoso, incapaz de detectar trechos 
de código inseguros inseridos no software por acidente ou sabotagem e que 
descarta  completamente a possibilidade de fraude promovida por agentes 
internos.
É 
certo que sistemas de votação puramente eletrônicos, como o adotado no Brasil, 
permitem apuração rápida, mas criam simultaneamente um cenário ideal para 
fraudes indetectáveis em larga escala. A 
velocidade de apuração nunca deve ter prioridade sobre a integridade do que é 
apurado. Para mitigar esse perigo, sugere-se aumentar a transparência 
atualmente insuficiente do nosso sistema por meio da reintrodução do voto 
impresso conferível pelo eleitor. Esse recurso consiste em apresentar uma versão 
materializada do voto para conferência dentro da cabine de votação e depósito 
automático em urna convencional. Assim, uma contagem manual posterior dos votos 
conferidos pode determinar se a contagem eletrônica foi feita corretamente, sem 
no entanto fornecer um comprovante que possa ser utilizado para violar o caráter 
secreto do voto. Além da verificação independente de resultados, é possível 
ainda realizar auditoria externa por fiscais eleitorais e recontagem de votos 
para resolver disputas. O 
Brasil é o único país do mundo que permanece utilizando significativamente 
sistemas de votação eletrônica que não fornecem um nível desejável de 
transparência.
o 
grupo de diego foi um dos que testou a urna, 
que é só uma parte do sistema.
qual 
foi uma das constatações do comitê independente? de que no atual sistemaeleitoral 
brasileiro é 
impossível para os representantes da sociedade conferire auditar o 
resultado da 
apuração eletrônica dos votos. sistema, e não só urna.
em 
um sistema opaco, sem auditoria independente, que se tornou parte essencial dos 
mecanismos de poder da nação e, com o passar do tempo, com cada vez mais gente 
sabendo cada vez mais sobre as mais variadas partes dos métodos, processos e do 
software que as implementam, e com muita gente, em eleições cada vez mais caras, 
interessadas em obter votos de forma mais, digamos, “efetiva”, era questão de 
tempo rolar um evento eu-não-disse, 
como parece que 
acaba de acontecer.
leia: 
um hacker, através 
de acesso ilegal e privilegiado à intranet da 
Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro… interceptou os dados alimentadores 
do sistemade totalização e, 
após o retardo do envio desses dados aos computadores da Justiça 
Eleitoral, modificou resultados beneficiando candidatos emdetrimento 
de outros – sem 
nada ser oficialmente detectado.
o 
texto em
 itálico 
vermelho acima é 
do site do PDT, sobre seminário realizado no 
dia 10/12 pelos institutos de estudos políticos do PR e PDT do rio de 
janeiro.
a 
notícia continua, citando o hacker, que estaria sob proteção policial: “A genteentra 
na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para 
a totalização e, depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. 
Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser 
fechada”. um ataque, portanto, à integridade do 
voto. você votou em X? o voto será de Y.
o 
“gente” poderia ser um só, na fala do dia a dia. mas o “modificamos”… preocupa. 
o “gente” são quantos, vindos de onde, que adquiriram conhecimento de quem e 
como, que atuaram em que eleições em 2012 [foram mais de 5.500 eleições…] e 
fizeram o que, a soldo de quem, com que resultado? se tiveram sucesso, quantos 
“eleitos”, diplomados pelos TREs, tiveram votos vitaminados pela “gente” amiga 
do hacker? mais: em um sistema em que é 
impossível para os representantes da sociedade conferir e auditar o 
resultado da 
apuração eletrônica dos votos, se o TSE nos disser que que 
não houve nenhuma fraude, vamos acreditar? agora que parece que temos um agente 
confessando que perpetrou uma, e das graves?…
segundo 
o hacker do rio, a atuação da “gente” era em prol de clientes da região dos 
lagos, lá. só isso já merece ampla e profunda investigação, que deveria ocorrer 
da forma mais aberta e transparente possível. estamos chegando a um ponto em que 
não dá mais para sustentar que um sistema do porte e importância do que elege os 
brasileiros que vão nos representar e administrar o país esteja sob qualquer 
tipo de suspeita. e também já não dá mais para sustentar, na base da crença e 
discursos, que o sistema não tem furos, é à prova da “gente” lá do hacker, os do 
rio ou outros, talvez mais contidos, que estão escondidos pelo brasil 
afora.
o 
sistema eleitoral brasileiro, todo ele, das regras e atribuições dos agentes até 
os componentes de hardware, software, logística, segurança… precisa de uma real 
e urgente revisão, com toda transparência do mundo, para que se ache as falhas 
que for possível achar e as corrijamos pela raiz. ou para que, todos juntos e ao 
mesmo tempo, em um processo aberto a todos, comemoremos que verdadeiramente não 
há falhas. e que este menino do rio não passa de um 
calor que provoca arrepio. 
no verão, na praia. e não na democracia brasileira.